Eu sou o Sr. Gorfpoh, assistente da diretoria da empresa. Estou saindo do prédio , acompanhado de minha namorada, secretária da presidência, , e não pretendemos mais voltar. Isso é bom porque não seremos mais humilhados pelo sr. diretor-presidente. Afinal, são 20 anos de serviço, sem nenhuma consideração. O que sempre fui? O faz tudo no gabinete da diretoria. O que ela sempre foi? A faz tudo na secretaria. Promoções? Não. Aumento de salário? Não. Mais trabalho? Sim. E humilhações.
"Sr. Gorfproh, o sr. parece ter talento para organizar eventos", disse-me ele um dia, inspirado,quem sabe, por algum desafeto meu . E- como se já não tivesse tanto para fazer- passei a ser responsável também por festinhas . Confesso que me dediquei àquilo. Talvez por crer que teria , enfim, algum reconhecimento. Na festa maior, a de fim de ano, quando da distribuição de dividendos dos acionistas, tornei-me insuperável. Não falo só da qualidade das decorações, iguarias, música Falo das surpresas. Em um ano, os cheques dos acionistas foram entregues por um Papai Noel que entrou pela janela do salão. Em outro, por dançarinas, em sumários biquinis. Houve uma vez em que levei uma atriz de TV, então atuando em novela de grande audiência ( consegui sua colaboração, de graça, por ser cunhada de um primo meu). Em todas as vezes, as festas foram sucessos, mas ele lembrou somente dos defeitos. Cerveja fria, uma ocasião; atraso no início, noutra; ar condicionado fraco, na mais recente. E as reprimendas sempre em público,na frente dos demais funcionários, diretores, contínuos.Anos e anos assim. Dia destes, porém, extrapolou. Humilhou minha namorada,após ela ter entornado, sem querer, uma xicara ,ao servir café durante reunião da diretoria. Estendeu-lhe o próprio lenço e ordenou-lhe que limpasse as gotas que cairam no chão . Não atendeu-a quando pediu para ir à copa buscar um pano apropriado. E ela fez o serviço agachada,diante de todos. Não tem a personalidade tão flexível quanto a minha e, por semanas, a vi ser consumida pelo sentimento de humilhação. No último domingo, não chegasse a tempo, e a encontraria morta em casa por excesso de tranquilizantes. Seu sistema nervoso reagia pessimamente ao dia-a-dia do serviço. Tornara-se-lhe insuportável conviver com os demais colegas. Não. Não podíamos continuar mais ali.Decidimos ir embora. Mas não deixaria de honrar o último compromisso, a festa dos dividendos . E nem furtei-me de preparar a aguardada surpresa anual . Sim. O diretor presidente foi avisado de que ela será inigualável. Está ansioso para vê-la.Como das vezes anteriores, não quis que eu adiantasse nenhuma informação. Prefere ser sempre surpreendido junto com os demais.Este ano, entretanto, ele tem uma função.: dar o sinal para que a surpresa se concretize.Para isso, basta apenas pegar a garrafa de champagne da cabeceira da mesa e abri-la. O espoucar da rolha será o aviso para que comece o espetáculo. Tudo muito simples.Então, em cinco minutos o diretor-presidente estourará o champagne... Eu e minha namorada não estaremos por perto quando ele puxar a garrafa e , colada a ela, o pino da granada que deixei presa no fundo do balde de gelo .
Que belo conto, Paulo. Quem lê, vai tendo vontade de fazer o mesmo com esse diretor. Uma surpresa e tanto.
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